Rua 1 - Plínio Ferraz
Filho mais velho de José Henrique Ferraz e Theonesta do Amaral Ferraz, nasceu em Descalvado/SP, em 31 de Agosto de 1891 e por coincidência pouco comum, faleceu aos 72 anos de idade, no dia de seu aniversário, em 31 de Agosto de 1963. Seu pai, administrador de fazendas na região de Ribeirão Preto, veio mais tarde a comprar uma serralheria na qual Plínio o ajudou muito.
Estudou e trabalhou em Ribeirão Preto, Santos, São Paulo, estudou também em Juiz de Fora, em Minas Gerais, no Instituto Grambery. Seu pai sofreu revezes financeiros em 1910 e mesmo assim, com coragem e clarividência, tomou dinheiro emprestado de amigos e mandou seus quatro filhos homens aos Estados Unidos da América do Norte por cinco anos para ampliar seus conhecimentos, o que muito lhe valeu na vida.(1911-1916).
Na volta, trabalhou algum tempo em corretora de exportação de café em Santos. Trabalhou também na cerâmica de seu compadre Vicente Soares de Barros, em Igarassu do Tietê, como foguista, alimentando com lenha a fornalha. Comprou a sociedade de uma pequena fábrica de chocolates em São Paulo, de nome Roço. Ajudou, também como sócio, na fabricação do açúcar e café “União”, desligando-se pouco depois.
Em 1917, casou-se com Cecília Rodrigues Ferraz com quem teve sete filhos: Guilherme Roberto, Vera, Plínio, Martha, Cecília e Marcos. Eles conviveriam por trinta e oito anos e ela sempre deu mão forte e boa companhia ao marido. Ela faleceu em 15 de dezembro de 1955. Comprou sua primeira fazenda em “Tambaú” e posteriormente trocou por “Igarassu do Tietê”.
Acompanhando seu pai desbravou o conhecido sertão entre Bauru e Cabrália Paulista, onde fundou a Fazenda Recreio, formando grande plantação de café. Em 1922 Plínio radicou-se em Bauru definitivamente, e crendo na pujança da região, comprou seu primeiro sítio. Contente e acreditando no que fazia, trabalhava com café e leite, levantava-se às três horas da manhã e suas carrocinhas com rodas de madeira e puxadas por dois animais entregavam leite a domicílio na cidade.
Com muita luta, foi comprando sítios vizinhos, totalizando dezessete aquisições com o mesmo número de escrituras, formando assim a “Fazenda São José” como a batizou. Após a revolução de 1932, convocado pelo seu amigo pessoal Armando Salles Oliveira, liderou em Bauru juntamente com seus mais chegados, o Partido Constitucionalista, se esforçando para obter o progresso da cidade.
Não escondia sua satisfação em morar em Bauru. Além de dedicar a sua vida e trabalho a esta cidade, dentro do possível, procurou contribuir sempre de alguma forma para novas conquistas, como por exemplo: na criação e viabilização do “Ginásio do Estado”, jornais, fundação do Automóvel Clube de Bauru e doação de área (80.000 metros aproximadamente) para o respectivo setor de campo, doação de 71.000 metros quadrados para implantar o primeiro núcleo de casas populares que traz o seu nome até hoje, onde se fez inaugurar um grupo escolar que foi transferido para outro local, mas que ainda conserva o nome de Plínio Ferraz.
Fez muitos e leais amigos, convivendo com eles no trabalho, em clubes de serviço, de associações de classe e de criadoras. Entre esses amigos referidos, fica até os dias de hoje, na quarta geração, a convivência de seus descendentes com amizade estreita e inestimável. Doou algumas quadras de lotes, próximo ao núcleo habitacional acima referido, à Sociedade Beneficente Cristã (Paiva) que as utilizou construindo residências para famílias carentes e orientadas pela instituição.
Também doou área superior a 40.000 metros quadrados para construção da Sociedade Hípica de Bauru, inaugurada em 30 de novembro de 1953; posteriormente doou mais 50 lotes urbanos nas adjacências do jardim Solange, inaugurado, entregues como incentivo a quem comprasse também um título do clube recém homenageado, sendo seu primeiro Presidente. O hipismo bauruense viveu durante muitos anos um esplendor grande no cenário estadual.
Na atividade profissional, em 1939 trocou seu gado leiteiro por criação seletiva da raça “Gir”, talvez pensando em leite; porém, não se adaptando, mudou rapidamente para a raça “Nelore”, tendo adquirido em sociedade com seu irmão José, 60 novilhas e 03 reprodutores no Estado do Rio de Janeiro do renomado criador Pedro Marques Nunes, um dos poucos na época que havia importado animais da Índia. Após alguns anos, separou a sociedade com seu irmão e, confiante na raça e com visão segura e profunda nos predicados de rusticidade, precocidade, e com incrível adaptação para nossas condições brasileiras, tornou-se um dos pioneiros, chegando mais tarde a exportar seus animais para a Argentina e países vizinhos, vencendo a grande rejeição do “Zebu” naqueles países. No entanto, hoje, todo o norte da Argentina está povoado de nelore e suas mestiçagens.
Por acreditar desde o início, procurou de várias formas difundir, aperfeiçoar os predicados da raça “Nelore”, merecendo também ser mencionado em alguns livros de técnicos e estudiosos das raças zebuínas, como o do Dr, Alberto Alves Santiago, entre outros. Preconizou e ajudou a fundar a Associação Nelore do Brasil em abril de 1954, tendo sido o seu primeiro Presidente. Além de promover muito a raça, proporcionou a ida do zootecnista Dr. João Barisson Villares à índia para estudos do zebu “in loco”, trazendo conhecimentos preciosos aos brasileiros.
Muito amigo do então prefeito de Bauru, Ernesto Monte, doou ao município várias áreas de terra: o local hoje da captação de água do Rio Batalha, a Estação de Tratamento de Água (onde funcionou em anexo por muitos anos um parque de lazer a população), mais área anexa de 800 metros quadrados para erigir escola municipal que também persistiu por longo tempo; ainda, por servidão, a faixa de terra da estrada que liga o Rio Batalha ao tratamento de água, e daí até a estrada velha para Piratininga (ponto atual da portaria do Jardim Shangri-lá). Hoje arte da Avenida Comendador José da Silva Martha.
Em abril de 1946, inaugurou o Recinto Mello de Moraes, com área também doada por ele. Essa obra teve o apoio irrestrito do então Secretário da Agricultura, Mello de Moraes – que também foi diretor vitalício da Escola Superior de Agricultura, Luiz de Queiroz em Piracicaba/SP -, seu particular amigo, como também o então interventor do Estado de São Paulo, Fernando Costa, que na época com muito tirocínio proporcionou também a construção de outros recintos semelhante no Estado de São Paulo. A “pedra fundamental” no recinto de Bauru guarda em sua caixa de concreto a ata de assinaturas das autoridades e dos presentes na inauguração, sob o mastro principal do Recinto.
Vale lembrar que, no dia da inauguração, Plínio Ferraz, chamado de “mestre de obras” do feito, somou ao evento com todo carinho, a sua própria homenagem ao secretário, escrevendo com vacas nelore, evidentemente de cor branca, a frase “Viva Mello de Moraes”. Para tanto, cada uma delas foi chinchada e amarrada em cinco esteios também pintados de brancos, fincados de acordo com o desenho pré-estabelecido. Isso aconteceu na encosta do pasto, que na época era formado de capim gordura, nas imediações do hoje conhecido loteamento “Residencial Jardins do Sul”, local onde todos podiam vislumbrar o nome do homenageado. Tudo isso exigiu um grande esforço e mereceu o reconhecimento de todos.
No ano seguinte à inauguração, propôs a implantação do “Feeding Test” perseguindo o objetivo de maior produção de carne em menor tempo. Concurso de ganho de peso em animais bovinos jovens para avaliação de precocidade das linhagens, é obrigatório desde 1968 pela ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) para proceder ao registro genealógico dos animais.
Por muitos anos, também as instalações do recinto foram para “posto do monta”: com taxas simbólicas, os médios e pequenos produtores rurais delas se serviam para acasalar suas matrizes com reprodutores de linhagens diferenciadas, fossem bovinos, eqüinos, asininos, caprinos, ovinos ou suínos. Com participação estreita e direta (1946), o Recinto de Exposições de Bauru vem trazendo contribuições inestimáveis à agropecuária como um todo.
Passaram-se os anos e outra parte da “Fazenda São José”, por herança, coube em sorteio entre os irmãos ao filho Marcos que loteou em forma de “Chácaras de Recreio” ainda em área rural, que recebeu a denominação “Condomínio Jardim Shangri-lá”. Mais tarde o projeto foi remodelado, tornando-se perímetro urbano, é hoje um excelente local para se morar, não só pela topografia, posição geográfica, mas especialmente pela característica de o vento soprar predominantemente evitando poluição em geral da cidade, até mesmo sonora.
Há poucos anos atrás, no “Condomínio Jardim Shangri-lá” uma rua foi denominada com o seu nome, Plínio Ferraz. Novamente ele foi lembrado, perpetuando sua trajetória por Bauru, e desta vez, de maneira por demais significativa, pois onde encontra o referido residencial era invernada de gado.
Invernada essa chamada internamente de “F1” entre a família e funcionários; por coincidência, era também a marca do criador sempre aplicada aos animais: “F1”, por ser o irmão mais velho, ficando os outros três com a seqüência numérica. Também a mesma área serviu para plantação de mandioca que era processada na própria fazenda, resultando em “raspa” que antecedia a fabricação da farinha, tão usada em todos os tempos.
Agora, com os planos da direção atual do “Condomínio Jardim Shangri-lá” de homenagear as pessoas cujos nomes são os das ruas desse residencial, fica aqui registrado um punhado de lembranças, o que, para nós sucessores, é gratificante.
Fonte: Marcos Ferraz, filho de Plínio Ferraz 08/2006
